Os “fumos” do Fumeiro (037)
Os tristes
acham que os ventos gemem, os alegres acham que eles cantam. (Assim falava Zalkind
Piatigórsky – Juiz de Direito, falecido no Rio de Janeiro em 1979).
Em visita
relâmpago aos “gambuzinos” do interior da nossa “Santa Terrinha” quando
ainda fumávamos…
E nóis fumos, vóis fumais, eles comem o fumeiro.
Eles comem
tudo que seja defumado. Vem-me isto a propósito da evolução do verbete liberdade
para libertinagem, e a forma lusa de practicar a solidaridade da saúde pública
em recintos com a privada - que está a liberdade dos outros!
Após confirmada a resolução do governo lusitano de
manter a permissão de fumar em recintos públicos, eu, modestamente manifesto
aqui a opinião de um ex-fumante que levou mais de 20 anos para se mentalizar
das graves conseqüências dos erros da juventude, e por isso:
Junto aqui o meu veemente protesto, feito em
cartório público e na privada!
- Este "manifesto" é Impresso a cores,
com as impressões digitais dos eloquentes testemunhos verbais de que; lá na
"santa terrinha" a preferência gastronómica continua a ser pelos
enchidos da minha terra! E não há no mundo alheiras como as de lá!
Enquanto os fregueses se sentam na mesa a comer
azeitonas e tremoços, e umas "tapas" a que chamam
modernamente de, "entrée"! ou mais sofisticadamente falando, o
tal do "couvert artistique",os fumantes em liberdade
incondicional acendem os charutos, os habanos, os galoises, as
cigarrilhas, as cafungadas de rapé, e até amiudadamente algumas fumantes
heroínas do craque, e outras coisas inaladas públicamente na privada, ali
tudo é permitido! ou até mesmo, simplesmente, se acendem umas
"biatas" surripiadas da sarjeta, também conhecidas por
"piabas" que são colectadas com um alfinete na ponta
da bengala, e escondidas no cós e na bainha das calças de burel, e
prontos! Ali está um fumódromo caseiro, onde nem se paga para entrar
porque, na verdade, o que todo mundo quer é sair dali o mais depressa
possível.
- Um verdadeiro restaurante tem que estar sempre
aberto e pronto para atender bem o freguês.
-Koooffff, Kooffff, koooffffhhhhh,
aaaaghrrrr!.
- ó maldita carraspana gutural do tabaco. É o fumo,
que não me larga esta voz de bagaço! ( ouve-se até de laaá de dentro).
- Dali sai aquela fumarada toda para defumar o
fumeiro que fica ali dependurado por cima da cabeça dos clientes até ficar no
ponto de ir p'ra brasa!
E de repente, não mais que num repente!...Lá vem o
empregado, também conhecido por "garçon" que segundo as últimas estatisticas do serviço
nacional da PIDE (leia-se: Portugas Imigrados Do Exterior) ele é mais
um do contigente Brasileiro em férias pela europa.
- Achega-se com modos bem subservientes e
humildemente pergunta à socapa!
- e aí gente!,… ú qué vai sair oige?!
Ó pá, aatão tu és nobo aqui no café?!
- tu num sabes u qu'é que cremos?
- O senhor me desculpe mas eu não lhe posso dizer a
resposta certa porque ainda estou à espera que saia o meu visto de entrada lá
no SEF (leia-se: Serviços de Emigração Falida).
- Ou bem me cria parcer!... este gai jo num entende
nada disto, páaaa!
- O parceiro do lado atalhou logo!
Não, não!, não, nós não queremos entrada
nenhuma!
Nós só cremos o prato da casa.
- Mas, Senhor!, o prato já está aí na sua frente!...
e é da casa! - tem até o nome gravado no cu com tinta hidra-cor.
Olhe, voismecê diga lá ó seu patrão que tá ki o
"mané geirinhas" qu'ele já sabe u qu'è que nós cremos, tá bem?!
Nisto o empregado, que ainda não era conhecido por
"garçon", vira-se para o lado do balcão, levantou a ponta do avental
branco por dentro e manchado por fora de tanto passar nos pratos, antes de
os botar na mesma mesa, no mesmo lugar, na mesma hora, nos mesmos dias da
semana, depois de vários meses, e grita:
Ó Ti Mané, tá ki o Ti Mané!
- qual deles?!,
- é o geirinhas, ele diz que o senhor já sabe o
qu'é qu'ele quer!
De lá de trás do balcão levanta-se o sujeito com
cara de dono de restaurante;
- Traz um lápis grafith em cima da orelha, um
cigarrito no canto da boca e um avental de plástico e nylon modelo dá a volta
ao mundo antes de lavar de novo! - E então ele encolhe um pouco a barriga para
poder passar de lado por entre os engradados de cerveja já vendidos, e levanta
os braços em forma de Cristo Rei de Almada.
-Ó páaaaaaa!, Oh Manel aatão tu estás cá!?
Eu pensei que ainda estavas lá na estranja, pá!
- Aatão cumé qu'estás?
Bem, eu...
Ó pá, num digas nada, páaaa!.
Aqui tu estás em casa, páaa, tu ficas á
vontade.
Vem daí aquele abraço, pá!... e de imediato
estampou-lhe umas palmadas nas costas que até ficaram lá marcadas as impressões
digitais deste depoimento.
Olha se ainda fumas podes até ir ali p'raquela mesa
do canto que lá fumas melhor, podes encher bem o peito e botar umas boas
baforadas p'ra cima da mesa dos vizinhos que são todos amigos.
-Olha Bem Mané, é que eu... Koffff, koffff, koooffffhhhhh, aaaaghrrrr! Kunkanecu.
Olha, já te disse pá!,... num tenhas problemas,
aqui os meus amigos são sempre benvindos!
Ah, ah sim mas não te esqueças, olha que os preços
deste ano está tudo pela hora da morte pá!
Bem, eu... É verdade pá!, Olha até queriam nos
proibir de receber clientes que não fumam mas, nóis fumos lá na cambra
municipal e batemos o pé!, sabes!?
- é que esta coisa de dar de comer às pessoas tem
lá o seu quê, entendes!?
Bem, bem… Fala, páaaaa,... até parece que estás
envergonhado home!?
Logo tu que me conheces desde garotos!
- Olha lembras-te daquele ano que fomos armar as
ratoeiras às perdizes, p'ra fazermos uma arrozada e até tu ficaste
lá preso no bramante que eu pus detrás da giesta carago!?, aquilo é que
eram bons tempos para irmos ós gambuzinos caraaaago!...
- Despeis inté fizemos uns cigarritos com borda de
papel de jornal e botemos lá umas flores de arçã com folhas de carqueja branca!
Oh pá... enapá que bons tempos.
- Aquilo quando a gente conseguia um cruzado ou u'a
croa p'ra comprar um pacote de " 20-20-20 " (três bintes)
para irmos fumar atrás do muro do cemitério lá no São Miguel, aquilo é que era
tempo baon carago!
-Olha Bem Mané, é que eu... Koffff,
koffff, koooffffhhhhh, aaaaghrrrr!
Kunkanecu.
U qué que
foi home!?.. fala, pá... U qué que foi?
Bem, eu... Koooffff, ... eu tive um imprebisto
e estou com fome mas deixei a carteira em casa, sabes como é que é!,... nesta
pressa de te bir a ber, acabei por deixar a carteira em cima da mesa da cozinha
e só me lembrei agora quando te queria pagar aqueles bales que tens ali
pendurados na parede desde o ano passado, etc e tal e coisa.
- òh edmilson, desligaí a máquina de labar os pratos.
- Já temos aqui um "beluntário" para
fazer o serviço de graça!
Em seguida virou as costas e depois de mais uma tragada
afastou-se a murmurar no meio da fumarada... só m'aparece cá disto, eu hein?!
Daqui a pouco estou é só a vender
a "massa falida" com
molho de alcagoitas.
- Enquanto isso lá em São Bento (do Norte,
que fica a uns 110 quilometros acima da linda cidade de Natal) os mancebos
responsáveis pelo ar mais poluído do recto ângulo lusitano, eles foram lá
passar férias e se esparramam todos nas redes, a apreciar as belezas
naturais. Principalmente, as belezuras das naturais da terra, os enchidos
peitos de cor marron, que se bamboleiam ao som das maracas e dos
maracatus!
- É ali onde o vento faz a curva da américa
latina, onde eles se espraiam naquilo a que chamamos já de a
terceira casa do casal!...A casa da cidade é para remediados, a casa de gente rica é outra coisa, pá. Tem que ser
na beira da Praia e de frente pró mar.
- Agora em Portugal, ser chique e
"xuxialmente" bem colocado na vida, é ter uma primeira casa na
"reboleira" que serve de base de lançamento dos próximos episódios e
dos códigos secretos para inserir no meu livro secreto sobre a P.I.D.E.
(repito: leia-se; Portugas Imigrados Do Estrangeiro)
- Depois ter uma segunda casa no Barlavento Algarvio -
ou seja; tem que ter bar la e vento!, muito bento, porque que se não tivér
bento não pode aspirar o ar puro de São Bento...
Vale lembrar que aquilo lá no hemiciclo do Palácio
de São Bento, ainda não tem o fumódromo com ar condicionado, e por isso é
melhor deixar estar a coisa como está mais uns anitos - talvez uma legislação
perenizada ad aeternum!
Por ultimo está na moda ter sempre uma terceira
casa, que seja bem escondida lá pelas praias dos mares do sul, tipo Ponta do
Madeiro, Baia dos Golfinhos, Baía Formosa, Búzios, São Miguel do Gostoso,
São Bento do Norte é apenas uma referência, claro.
- Assim, quando o Ti Zé Pô vinho perguntar a eles
onde eles foram durante os últimos quatro anos de governo, eles apenas dizem;
"nois os verdadeiros democratas xuxiais-xuxialistas, nois fumo
fumar no fumódromo" - agora que o verão já vai deixando de ter fumaça,
é sempre de bom tom manter o sonho no ar.
Segundo disse o poeta: os sonhos são como as nuvens
de fumaça!, uns se realizam e os outros se desfazem no infinito buraco negro do
Ó zónio!
Oh Zônio! Oh pá, olha traz aí mais uma carteira de
"Provisórios"!
- afinal nós “emigrantes avecs” até
fumos aqueles que contribuimos muito para a melhoria da culinária portuguesa!
Nóis fumos ou não fumos?
Silvino Potêncio - Autor de "Catramonzeladas
Literárias" troca os Vês pelos bês e outras frivolidades virtuais de
fumeiro Tansmontano.
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